segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Treinamento físico individualizado na pré-temporada para a melhora da performance

Como deverá ser conduzido o trabalho para que os jogadores tenham condições de iniciar o primeiro jogo da temporada preparados fisicamente de acordo com suas respectivas posições?

Resumo

Os atletas profissionais de futebol de campo entram em férias e não mantêm o ritmo de treinamento de uma temporada. Na reapresentação do clube, ocorre a pré-temporada com o intuito do aprimoramento físico. Com isso, pretende-se investigar como deve ser realizado o treinamento físico na pré-temporada de cada jogador por sua respectiva posição a ponto que ele esteja preparado fisicamente a estar iniciando o primeiro jogo da equipe após este período.

Para a busca da resposta do problema proposto, fontes de cunho bibliográfico foram pesquisadas procurando informações e conhecimentos prévios e, com o entendimento final deste trabalho, pode-se considerar que a pré-temporada é um período curto em que os atletas devem aprimorar não só a parte física, mas como também a parte técnica, tática e psicológica.

Palavra-chave: treinamento, físico, pré-temporada.


Introdução

Os atletas profissionais de futebol de campo entram em férias e não mantêm o ritmo de treinamento de uma temporada. Na reapresentação do clube, ocorre a pré-temporada com o intuito do aprimoramento físico especifico de cada jogador por posição, período que antecede o primeiro jogo oficial autorizado pela federação a que o clube está vinculado.

Um fato que ocorre no Brasil é a falta de tempo para as equipes se prepararem para o início das competições, quando o tempo necessário seria de no mínimo um mês, o que acontece é uma pré-temporada de no máximo quinze dias nos grandes clubes brasileiros.

A pré-temporada abordada por Brunoro (1997, p.100) é o período de preparação de uma equipe depois das férias que antecede o início dos campeonatos do ano, ocasião de fundamental importância para que os jogadores recebam preparação física adequada para estar apto aos jogos durante toda a temporada.

As evoluções físicas dos atletas de futebol vêm melhorando a cada ano e nota-se que na reapresentação após as férias, os jogadores encontram-se em um estado físico muito abaixo do ideal devido ao tempo de inatividade.

É importante ressaltar que as equipes estão equivalentes técnica e taticamente e o que pode alterar um resultado em uma partida é a preparação física dos atletas. Barros (2004, p. 22) relata que apesar de o futebol se tratar de uma modalidade em que a tática, técnica e habilidade individual são fundamentais, tem-se notado, nas últimas décadas, uma preocupação especial com aprimoramento físico do atleta devido à intensidade das partidas.

O educador físico tem um tempo para a primeira partida oficial de aproximadamente quinze dias e tem que trabalhar a questão física para que os atletas tenham o desempenho de atuar bem fisicamente toda a partida sem o perigo de um risco de lesão devido ao condicionamento deste.

Para alcançar estes objetivos, Frisselli (1999, p. 177) entende que o preparador físico deve lançar mão de uma série de meios de treinamento destinados a desenvolver e aperfeiçoar a forma e as diferentes funções do organismo do atleta de futebol. A preparação física de cada jogador é determinada por cada posição, pois há um condicionamento físico diferenciado entre eles devido ao tipo de movimentação que ocorre durante o jogo, já que a mobilidade varia de acordo com cada posição.

Com isso, o educador físico tem o propósito de aplicar um treinamento para que os jogadores tenham condições de iniciar o primeiro jogo da temporada preparado fisicamente.

Assim, uma das formas de haver melhoria na capacidade da performance seria o trabalho individualizado com sessões de treinamentos aeróbios e anaeróbios e aplicar no mínimo um amistoso para ir entrando aos poucos em um ritmo de jogo já que o período chamado “ideal” de uma pré-temporada não ocorre no futebol brasileiro.

A principal razão para uma pré-temporada, no entendimento de Brunoro (1997, p. 100), Barros (2004, p. 22) e Frisselli (1999, p. 177) é aprimorar a performance física respeitando os limites de cada jogador, mas sabendo usar o máximo do seu alcance para que ocorra uma melhoria a tempo de influenciar na primeira partida, pois se entende que ainda o desempenho físico não estará no ideal devido ao tempo de preparação. Com isto, pretende-se investigar como deve ser realizado o treinamento físico na pré-temporada de cada jogador por sua respectiva posição a ponto que ele esteja preparado fisicamente a estar iniciando o primeiro jogo da equipe na temporada. Sendo assim, formula-se a seguinte questão: como deverá ser feita uma pré-temporada para que os jogadores tenham condições de iniciar o primeiro jogo da temporada preparados fisicamente de acordo com suas respectivas posições?

Esta pesquisa irá proporcionar um estudo com o intuito de procurar entender como devem ser aplicados de maneira adequada os treinamentos de uma pré-temporada para que os jogadores encontrem-se aptos ao esforço de que necessitam para toda uma temporada de competições a que seu clube está vinculado.

Na atualidade, a ênfase nos treinamentos de futebol é a preparação física, devido à intensidade em que os jogos estão sendo realizados pelas equipes, e este trabalho tem por objetivo proporcionar uma visão do que pode ser feito em uma pré-temporada para que os jogadores possam mostrar suas habilidades e técnicas durante as partidas, sem que o condicionamento físico os atrapalhe.

Considerando a importância de adquirir conhecimentos sobre determinado assunto tem-se o objetivo geral de analisar como deverá ser feita uma pré-temporada para que os jogadores tenham condições de iniciar o primeiro jogo da temporada preparado fisicamente de acordo com suas respectivas posições.

Com esta visão e como relata Weinneck (2000, p. 15), as características do condicionamento físico do jogador de futebol limitam-se principalmente aos fatores físicos da performance: resistência aeróbia e anaeróbia, força, velocidade e flexibilidade, fato que nos mostra o perfil de exigência dos atletas nos treinamentos.

Pretende-se com isto formular uma pesquisa de cunho bibliográfico para saber como deverá ser realizado o treinamento na pré-temporada, quais os métodos adequados para aprimorar o condicionamento físico e como os atletas estarão para a primeira partida oficial da temporada.

Nesta perspectiva, Cervo e Bervian (2002, p. 66) propõem uma pesquisa onde serão analisadas fontes bibliográficas procurando informações e conhecimentos prévios para a busca da resposta do problema proposto para assim saber como os atletas conseguem chegar à intensidade física que estão chegando nas partidas atuais e como saber quais estão em melhores condições para iniciar a primeira partida após os treinamentos da pré-temporada.


Treinamento Aeróbio e Anaeróbio

Para poder realizar grandes volumes de trabalho físico, Golomazov e Shirva (1997, p. 33) afirmam que todo futebolista deve ter coração resistente e bons pulmões que lhe asseguram a alimentação dos músculos com oxigênio. Para isso, afirma-se que:


A energia utilizada pelo jogador durante a partida é derivada da quebra de um componente químico chamado adenosina fosfato (ATP) e convertida em energia mecânica, de tal forma que o jogador pode realizar atividades táticas, técnicas e físicas. O ATP é produzido por uma reação química sob condições anaeróbias e aeróbias. Anaeróbia, ou energia não-oxidativa, significa que a reação é realizada sem a presença de oxigênio, enquanto aeróbia, ou energia oxidativa, refere-se a uma condição na qual o ar inalado tem tempo de ser transportado para o músculo em atividade para participar do processo de queima de alimentos e, como resultado, produção de energia (BOMPA, 2005, p. 88).

Com isso serão analisados a seguir como devem ser realizados os treinamentos aeróbio e anaeróbio do atleta de futebol na pré-temporada para que ele se encontre apto para estar em condições de atuar na primeira partida da temporada fisicamente adequado.


Resistência aeróbia para o jogador profissional de futebol

No futebol, a resistência aeróbia para Fernandes (1994, p. 49) é a capacidade de manter um esforço de longa duração com intensidade fraca, realizado sempre na presença de oxigênio, havendo um equilíbrio entre a quantidade consumida e a recebida, fenômeno chamado de “steady-state”.

Nos esportes e jogos coletivos, Platonov (2003, p. 15) sugere que:

Os exercícios de pouca potência aeróbia – exercícios acíclicos que se caracterizam por um câmbio constante e pela instabilidade da atividade motora – são aqueles em que o aporte energético para os músculos atuantes é praticamente exclusivo dos processos oxidativos, consumindo principalmente os lipídios e, em menor grau, os carboidratos (coeficiente respiratório inferior a 0,8).

Para Bompa (2005, p.149) o fator limitante da performance do futebol é a potência de aceleração/desaceleração com mudanças rápidas de direção, sendo que 72% em uma partida o jogador sofre da resistência aeróbia.

Assim, entende-se que a resistência aeróbia para o jogador de futebol pode ser de fundamental importância, pois uma partida dura aproximadamente noventa minutos e o trabalho aeróbio serve para o jogador aguentar esta carga de trabalho.

Deve-se, então, realizar um treinamento em que o jogador desenvolva este tipo de resistência para a melhora da sua aceleração, desaceleração e mudanças de direção, já que isto é necessário nas partidas de futebol.


Resistência anaeróbia para o jogador profissional de futebol

As ações e cargas específicas no futebol para a resistência anaeróbia são cargas curtas e consecutivas em lutas entre dois e muitos sprints sendo caracterizado de caráter muscular. Este vem a ser um tipo de esforço realizado em débito de oxigênio que exige uma grande capacidade de recuperação do atleta devido às altas dívidas de oxigênio que são produzidas e, especificamente no caso do futebol, deve-se trabalhar utilizando-se o treinamento dos intervalos, que é um método determinado pela repetição sistemática de distâncias que variam de cem a quatrocentos metros em intensidade submáxima produzindo uma alta dívida de oxigênio no organismo (FERNANDES, 1994, p. 52).

A importância do desenvolvimento da força máxima – força dinâmica explosiva – é decisiva no futebol, pois um gol sai somente por predominância anaeróbia como um chute a gol, cabeceio ou um contra-ataque em velocidade e, para desenvolver um trabalho específico nesse sentido, os músculos têm que trabalhar com uma intensidade próxima da máxima, sem relaxamento – quarenta segundos, ou seja, o tempo suficiente para que apareçam os produtos da anaerobiose (GOLOMAZOV; SHIRVA, 1997, p. 24).

Para Bompa (2003, p. 149), 28% de uma partida de futebol o jogador gasta por resistência anaeróbia sendo que metade deste por metabolismo lático e a outra metade por metabolismo alático.

A capacidade anaeróbia corporal é afetada pelos processos do SNC (sistema nervoso central), que facilitam o trabalho intensivo contínuo ou sob condições de exaustão, o treinamento específico é o melhor método para melhorar a capacidade anaeróbia, entretanto, o treinamento anaeróbio é sempre mais efetivo, com um tempo mais longo de restabelecimento da reserva de energia, se você alterná-lo com o treinamento aeróbio (BOMPA, 2005, p.261).

Para o aumento da capacidade anaeróbia alática deve-se trabalhar com cargas de curta duração de cinco a dez segundos e de intensidade máxima com intervalos de dois a três minutos e para melhorar a potência do processo anaeróbio lático deve-se trabalhar entre trinta e noventa segundos e para aumentar a sua capacidade entre dois e sete minutos (PLATONOV; BULATOVA, 2003, p. 304).

Com isto, sabe-se que em uma partida de futebol o metabolismo anaeróbio é de menor predominância, porém de fundamental importância, pois é o que altera o resultado em uma partida e, para trabalhar os atletas nesta resistência, deve-se elevá-los ao máximo para que melhorem as suas potências e capacidades anaeróbias. Assim, os métodos que devem prevalecer são os de treinamentos mistos trabalhando a resistência aeróbia e anaeróbia (lática e alática) juntos, para que os atletas possam viver uma situação real de jogo.


Treinamento de Força Muscular

O papel da força no rendimento esportivo é um fator importante, sendo inclusive, em alguns casos, determinante. Esta desempenha um papel decisivo na boa execução da técnica – os grupos musculares intervêm em uma fase concreta do movimento. A velocidade de execução está estreitamente relacionada com a força, pois quanto maior a resistência, maior a relação entre ambas, ou seja, uma maior aplicação de força pode levar a uma melhora de potência, e também, está relacionada com a melhora do rendimento, sempre que o treinamento realizado se ajuste às necessidades de cada especialidade esportiva (BADILLO; AYESTARÁN, 2001, p. 17).

No futebol, os atletas correm velozmente, mudam de direção e voltam a correr velozmente e, para Faigenbaum e Westcott (2001, p. 200):

... os músculos em grande parte responsáveis por essas acelerações e desacelerações rápidas são os quadríceps, isquiotibiais, glúteos e panturrilha, sendo que os exercícios básicos para fortalecer são os: agachamento com barra, o leg press no aparelho e a flexão plantar e os exercícios de potência, que são importantes para melhorar a velocidade e a rapidez nas extremidades inferiores, são: o agachamento com arremesso e o avanço com arremesso com medicine balls.

O jogador de futebol necessita da qualidade física força em três aspectos, sendo eles: para a elevação da performance específica do futebol, como a força de salto, de chute, de lançamento (nos laterais) e capacidade de aceleração; como profilaxia de lesões, uma musculatura bem desenvolvida forma a mais eficiente proteção para o aparelho motor; e no treinamento de força como profilaxia para a musculatura responsável pela manutenção da postura, com isso, consegue-se prevenir a tão típica dor lombar no jogador de futebol (WEINNECK, 2000, p. 190).

Como treinamento neuromuscular, Frisselli e Mantovani (1999, p. 193) entendem que a força, em sua forma pura, não se manifesta no futebol, a força e a velocidade são dois aspectos do mesmo componente e estão intimamente ligados nas ações motoras físicas, técnicas e táticas.

Sendo assim, pode-se entender que o treinamento de força no futebol é indispensável para os jogadores, pois além de haver uma melhora de rendimento na resistência aeróbia e anaeróbia, ela também previne lesões. Apesar de o futebol ser um esporte que explora os membros inferiores, é importante também fortalecer os membros superiores devido a este ser um esporte de muito contato e para cobrar laterais de grandes distâncias, já os goleiros, ao contrário dos demais jogadores, necessitam muito da utilização dos braços como fazer uma defesa ou um lançamento com as mãos.


Capacidade física de cada jogador por posição

As qualidades físicas de cada jogador variam de acordo com sua respectiva posição e, começando pela defesa, o goleiro deve ter uma boa estatura, força explosiva, flexibilidade, agilidade e equilíbrio; já os laterais devem possuir boa compleição física e peso proporcional, força explosiva, resistência, recuperação e coordenação; os zagueiros necessitam de bom porte físico, estatura elevada, força, impulsão, equilíbrio, reação rápida e agilidade; o meio-campista resistência, coordenação, recuperação e velocidade de deslocamento; os ponteiros velocidade, agilidade, equilíbrio e força explosiva; por último os atacantes que devem ter como características a estatura elevada, agilidade, força e impulsão (MELO, 1997, p. 14).

No mesmo caminho das características físicas citamos o goleiro com uma estatura em torno de um metro e noventa aproximadamente, salvo algumas exceções, elasticidade, equilíbrio, coordenação, velocidade de reação, impulsão e agilidade; os laterais com estatura de aproximadamente um metro e setenta, resistência, velocidade, coordenação e agilidade; os zagueiros com estatura em torno de um metro e oitenta e cinco, porém podendo compensar a falta de estatura com uma excelente colocação, impulsão e antecipação; os meias com boa resistência aeróbia, força, coordenação, agilidade e velocidade de reação; os pontas com velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e velocidade de reação; finalizando os centroavantes que devem ter como características destacadas a força, resistência, impulsão, agilidade, coordenação e velocidade de reação (FILHO, 2002, p. 86).

Desta forma, aceita-se que a maioria das características físicas de cada posição assemelha-se umas às outras, por isso que atualmente um atleta consegue jogar de lateral ou ponta com um rendimento constante e, citando as características de cada posição, consegue-se aperfeiçoar o treinamento físico baseando-se nas capacidades do atleta.


Considerações Finais

Com entendimento final desse trabalho, pode-se considerar que a pré-temporada é um período curto em que os atletas devem aprimorar não só a parte física, mas como também a parte técnica, tática e psicológica.

Na parte física, o treinamento deve ser de resistência aeróbia, anaeróbia e mista (aeróbia e anaeróbia), procurando proporcionar da maneira mais real e dinâmica possível de uma partida de futebol; também se devem executar treinamentos de força muscular devido às exigências que o futebol pode proporcionar, como força explosiva e contato físico, contando que o treinamento muscular previne lesões e fadigas.

A capacidade física de cada jogador pode variar de acordo com suas características, mas, em geral, o que pode prevalecer são treinamentos em que forcem os atletas a explorarem-nas para que em uma partida ele possa ter uma performance de acordo com sua potência máxima adquirida. Assim, a pré-temporada faz com que os atletas encontrem-se aptos a disputa de toda uma temporada, se mantendo o treinamento durante esta.


Bibliografia

BADILLO, J.J.G.; AYESTARÁN, E.G. Fundamentos no Treino de Força. Porto Alegre: Artmed, 2001.

BARROS, T.L. Ciência do Futebol. Barueri: Manole, 2004.

BOMPA, T.O. Treinando Atletas de Desporto Coletivo. São Paulo: Phorte, 2005.

BRUNORO, J.C. Futebol 100% Profissional. São Paulo: Gente, 1997.

CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2002.

FAIGENBAUM, A.; WESTCOTT, W. Força e Potência para Atletas Jovens. São Paulo: Manole, 2001.

FERNANDES, J.L. Futebol: ciência, arte ou... sorte! São Paulo: Pedagógica e Universitária Ltda., 1994.

FILHO, J.L.A.S. Manual de Futebol. São Paulo: Phorte, 2002.

FRISSELLI, A. Mantovani, M. Futebol: teoria e prática. São Paulo: Phorte, 1999.

GOLOMAZOV, S.; SHIRVA, B. Futebol: preparação física. São Paulo: Lazer e Esporte, 1997.

GOMES, A.C. Futebol: preparação física. Londrina: Treinamento Desportivo, 1999.

MELO, R.S. Qualidades Físicas e Psicológicas e Exercícios Técnicos do Atleta de Futebol. Rio de Janeiro: Sprint, 1997.

PLATONOV, V.N.; BULATOVA, M.M. A Preparação Física. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.

WEINNECK, J. Futebol Total: o treinamento físico no futebol. Guarulhos: Phorte, 2000.

Fonte: Universidade do Futebol
Autor: Matheus Silva Ferreira da Costa

Fisiologia do futebol: conceitos e revisões básicas

Jogadores com melhor capacidade aeróbia tendem a poupar o glicogênio muscular durante exercícios de intensidade moderada para utilizá-lo em momentos finais, mais decisivos do jogo


A fisiologia do esporte contribui para o trabalho de toda comissão técnica no futebol, porém, para isso, todos os profissionais membros da comissão devem ter bom embasamento teórico sobre a fisiologia específica do futebol. E é nesse sentido que o presente artigo se justifica, tentando fazer uma abordagem geral e básica sobre os conhecimentos em fisiologia da modalidade esportiva mais popular do mundo.

O futebol é um esporte caracterizado por atividades intermitentes. Ele exige grande demanda física, o que requer elevado grau de habilidade técnica, força, endurance, velocidade e agilidade. “Trata-se de um jogo com bastante trabalho anaeróbico seguido de exercícios contínuos de corrida.” (RHOADS, 1986).

O consumo de grandes quantidades de substratos energéticos também é muito requerido nesse esporte que exige níveis altos de produção de energia aeróbia e anaeróbia.

Os estoques de fosfocreatina nas células musculares do tipo II fornecem a maior parte da energia necessária para exercícios de curta duração (até 15 segundos) e também quando há mudanças na intensidade do exercício que está sendo realizado. Consequentemente, quando esses exercícios são realizados com um pequeno intervalo de tempo entre eles, os estoques de creatina fosfato serão depletados, não havendo energia necessária para os exercícios seguintes, pois o tempo de recuperação é curto.

A ressíntese de fosfocreatina depende da disponibilidade do oxigênio durante a recuperação. Por isso, atletas com um alto VO2 terão maior capacidade de fornecimento de oxigênio para os músculos exercitados, tendo uma maior ressíntese de fosfocreatina no músculo durante o período de recuperação. Portanto, isso significa que em exercícios intermitentes, o indivíduo que tem um VO2 mais alto possui melhor desempenho, tendo um melhor aproveito.

Os carboidratos e os lipídios são os principais substratos usados no metabolismo oxidativo do músculo. Há uma mistura na utilização de carboidrato e lipídio durante o exercício determinada principalmente pela intensidade e duração do exercício.




Figura 1: Gráfico demonstrando a utilização da gordura de acordo com a intensidade do exercício.

O fígado libera glicose suficiente para manter e, até mesmo, elevar a glicose sanguínea durante o jogo. Por isso, os estoques de glicogênio, tanto muscular quanto hepático, são importantes para o desempenho no futebol.

Aos poucos, esse substrato vai chegando à depleção. No segundo tempo de um jogo, por exemplo, a concentração é bem menor, fazendo com que o atleta diminua sua capacidade de corrida e força, reduzindo sua eficiência na partida.

Quanto aos lipídios, seu principal componente é o ácido graxo livre. Sua utilização para oxidação é maior durante exercícios de intensidade de baixa a moderada. Quando o exercício é prolongado, a lipólise ocorre em intensidades altas.

A concentração de ácido graxo livre no sangue aumenta durante uma partida de futebol, principalmente na segunda etapa do jogo.

Estudos indicam que a proteína contribui com menos de 10% da produção de energia no futebol. Sendo assim, os aminoácidos são considerados fonte auxiliar de combustível. “Além disso, a oxidação de aminoácidos é inversamente proporcional à disponibilidade de glicogênio muscular.” (LEMON, 1994).




Figura 2: Utilização de gorduras e glicoses de acordo com a intensidade do exercício.

Tanto os exercícios contínuos, quanto os intermitentes, são usados no treinamento do futebol a fim de facilitar as adaptações fisiológicas para melhorar o desempenho. “Os exercícios intermitentes podem acarretar maior demanda no sistema cardiovascular do que exercícios contínuos quando realizados em uma mesma intensidade.” (DRUST, 2000).

As demandas fisiológicas de cada jogador dependem muito de sua função em campo. Por exemplo, um meio-campista requer maior trabalho aeróbio do que outras posições, já que este faz a ligação entre a defesa e o ataque, necessitando assim, de uma maior potência aeróbia.

A alta potência aeróbia e uma porcentagem elevada de oxigênio no limiar anaeróbio em futebolistas são alguns fatores considerados preditores de boa capacidade do organismo para tolerar a longa duração do jogo. Dessa maneira, o jogador tem uma maior eficiência de movimento, sem se cansar rapidamente, pois seus músculos estarão mais bem capacitados para captar e utilizar maior volume de oxigênio e, consequentemente, maior produção de energia durante a partida, com maiores estoques de glicogênio muscular. (GUERRA; BARROS; 2004, p. 4)

O sistema aeróbio é a principal fonte de geração de energia durante um jogo de futebol. E o consumo máximo de oxigênio (VO2max) tem por definição ser o volume máximo de oxigênio que pode ser transportado e utilizado para o metabolismo aeróbio. “A capacidade aeróbia expressa a habilidade de se manter um exercício durante um período e é sinônimo de endurance.” (REILLY, 2000).


Com a redução dos estoques de glicogênio muscular, parte do substrato energético vem do metabolismo dos lipídios. Jogadores com melhor capacidade aeróbia tendem a poupar o glicogênio muscular durante exercícios de intensidade moderada para utilizá-lo em momentos finais, mais decisivos do jogo. Esse efeito poupador de glicogênio permitirá ao jogador correr distâncias maiores sob uma intensidade maior antes da diminuição dos estoques de glicogênio. (WISLOFF, 1998).

Chegando ao limiar anaeróbio, definimo-nos como sendo a intensidade do exercício que antecede um aumento súbito do lactato no sangue.

Um limiar anaeróbio elevado, isto é, uma fração elevada do VO2max sem que ocorra acúmulo demais de ácido láctico no sangue, tem grandes implicações funcionais. Isso significa que o atleta está mais bem preparado para realizar atividades de maior intensidade por períodos de tempo mais prolongados.

Essa potência ajuda na rapidez do jogador que pode ser decisiva em jogos. Principalmente para os goleiros e laterais que precisam de energia de alta intensidade em alguns momentos do jogo onde o exercício se torna intenso. Como, por exemplo, em uma defesa de uma bola rápida e forte, ou em um sprint de um lateral desde sua área até a área do time adversário.

A concentração do lactato é um indicador de produção de energia anaeróbia. Sua concentração no sangue é menor no segundo tempo do que no primeiro, já que se diminui a frequência e duração de exercícios de alta intensidade. Mas isso nem sempre é regra, uma vez que depende muito do tipo de jogo, motivação do jogador, táticas e estratégias, ou até placar do jogo.

Isabela Guerra e Turibio Leite de Barros afirmam no livro Ciência do Futebol (2004) que o futebol moderno exige um jogador forte, rápido, capaz de vencer resistências, suportar cargas intensas e, ao mesmo tempo, ter pouca fadiga durante o jogo. Logo, o atleta precisa manter força, velocidade, resistência e flexibilidade de forma conjunta.

A composição corporal é um fator muito importante no condicionamento de um jogador a ser analisada caso a caso. A gordura corporal atua como peso morto em atividades em que a massa corporal é levantada várias vezes contra a ação da gravidade. O jogador de futebol profissional tem em média 1,79 de altura, pesa 76 quilos, tem de 25 a 27 anos e percorre em média 10,8 quilômetros durante o jogo. Andam a maior parte do tempo de partida (40,4%), correm em baixa intensidade em 35% do tempo, ficam parados em 17,1%, e correm em alta intensidade em 8,1% do jogo.

Tabela 1 - Diferentes exigências nas diferentes posições.




Fonte: Adaptado de Ciência do Futebol (BARROS & GUERRA, 2004).

A estatura pode ser um parâmetro que define o sucesso no futebol, pois pode ajudar a determinar a posição do jogador. Houve vários casos de jogadores que não tinham boas apresentações durante jogos e, após mudarem de posição (com a devida ajuda de seus técnicos), passaram a ter maiores aproveitamentos nos 90 minutos.

Pode-se concluir que o futebol é uma modalidade complexa no que concerne a Fisiologia do Esporte, e os conhecimentos em fisiologia são muito importantes não apenas para os profissionais de preparação física, mas também para todos os profissionais da comissão técnica, incluindo o técnico, para que, desta forma, o trabalho global seja mais eficiente.

Fonte: Universidade do Futebol