sexta-feira, 7 de setembro de 2012

NOVOS MÉTODOS PARA O TREINAMENTO DA FORÇA: TREINAMENTO COM VIBRAÇÕES


As plataformas vibratórias são cada vez mais utilizadas em ginásios e centros esportivos e são introduzidas progressivamente em centros geriátricos para o treinamento dos idosos. Os estudos, centralizados nos efeitos do treinamento com vibrações em idosos, recomendam este tipo de exercício como uma alternativa terapêutica para a prevenção e/ou melhoria da osteoporose e sarcopenia, além de outras doenças e problemas de saúde. Grande parte de nosso conhecimento sobre a osteogênese provém de dados obtidos de jovens saudáveis e ainda há poucas informações sobre a remodelação óssea nas pessoas que sofrem de fragilidade óssea. Estão sendo utilizadas as Vibrações do Corpo Inteiro (VCI) para produzir uma aceleração mecânica no esqueleto apendicular e axial (Rubin e cols., 2003), e, assim, provocar um aumento da massa óssea. O atrativo desta terapia é a possibilidade de ser aplicada com baixo impacto, que é fundamental para as pessoas com mobilidade reduzida e pouca força muscular (por exemplo, pacientes de idade avançada ou doentes).



Figura 1: Plataformas.

Tem aumentado muito os estudos centralizados neste tipo de treinamento e seus efeitos nos idosos, mas ainda hoje não estão bem definidos os mecanismos fisiológicos envolvidos nas respostas adaptativas da exposição à vibração e os parâmetros de vibração mais indicados para maximizar os efeitos. Embora hajam muitas pesquisas que comprovem seus efeitos positivos sobre a força muscular isométrica e explosiva, sarcopenia, mobilidade, controle postural em homens e mulheres idosas.

Vibração do corpo completo


O estudo da vibração é uma tarefa multidisciplinar na qual estão envolvidas a engenharia, a medicina e a psicologia (Griffin, 1996). Por seu caráter de movimento oscilatório, as variáveis que determinam sua intensidade são a frequência e a amplitude. A primeira é a repetição dos ciclos de oscilação (medida em Hz) e a segunda é determinada pela dimensão do movimento (medida em mm). Existem diferentes tipos de vibração, embora a maioria das plataformas existentes no mercado sejam de dois tipos: vertical (figura 2, Direita) ou oscilante (figura 2, esquerda).




Figura 2: Esquerda: plataforma oscilante. Direita: plataforma vertical.

Esses dispositivos enviam vibrações através de frequências que variam entre 15 e 60 Hz, e amplitudes entre 1 e 10 mm. A aceleração enviada pode chegar a 15g (1g = força da gravidade ou 9.8 m/s2). Considerando as múltiplas combinações possíveis entre frequência e amplitude, existe uma variedade no projeto dos protocolos.

Efeitos sobre o sistema muscular


Tradicionalmente, o treinamento de força é utilizado para reduzir os efeitos da sarcopenia, pois foi demonstrado que induz uma hipertrofia muscular e aumenta a força e funcionalidade (Hunter e cols., 2004). Entretanto, as vibrações diariamente têm um maior interesse (Jordan e cols., 2005). Existem hipóteses de que o ganho de força muscular, provocado pelas vibrações, deve-se principalmente a fatores neuronais, mais que à hipertrofia muscular, provavelmente relacionados com uma maior sensibilidade ao reflexo de alongamento (Rehn e cols., 2007). Quando um músculo é submetido à vibração, estimulam-se as terminações primárias do fuso muscular (aferentes) que excitam os α-moto neurônios e provocam a contração das unidades motoras homônimas, resultando, finalmente, em uma contração tónica do músculo conhecida como reflexo tônico vibratório (Martin e Park 1997).

tabela 3 resume os efeitos musculoesqueléticos do treinamento com vibrações nos idosos, além dos protocolos utilizados em diversos estudos, que têm por objetivo determinar a influência deste tratamento e demonstrar as diferentes possibilidades de aplicação.

Em um estudo de Roelants e colaboradores, o treinamento com vibração de corpo inteiro (35-40 Hz) aumentou a altura de salto com contra-movimento, a força dinâmica isométrica de extensão do joelho e a agilidade deste mesmo movimento em mulheres pós-menopáusicas depois de 24 semanas de treinamento vibratório e de resistência (Roelants e cols., 2004).

Segundo a pesquisa de Verschueren e colaboradores, o grupo de mulheres pós-menopáusicas (60-70 anos) que participou do treinamento com o VCI, obteve melhoras na força isométrica (15%), força dinâmica (16,5%) e equilíbrio corporal, depois de 24 semanas de treinamento vibratório, comparado com grupo controle (Verschueren e cols., 2004). O grupo de treinamento de força também mostrou benefícios significativos, indicando que o treinamento do VCI é tão eficaz quanto o treinamento tradicional para o aumento do equilíbrio e de força muscular para esta população (Verschueren e cols., 2004). Portanto, a VCI pode ser eficaz para aumentar a força muscular, o equilíbrio e a mobilidade de idosos.

Bogaerts e colaboradores descobriram que, depois de um ano de treinamento vibratório, um grupo de homens (60-80 anos) melhorou a força muscular isométrica e explosiva, resultados semelhantes aos do grupo que participou de um programa doFitness (Bogaerts e cols., 2007).

Em outro estudo, um grupo de homens e mulheres (66-85 anos) participou de um programa composto de treinamento vibratório mais exercícios ou apenas exercícios, com duração de 8 semanas. A força e a potência do tornozelo na flexão plantar melhoraram significativamente. Entretanto, a resistência e força extensora e flexora do quadril e joelho, assim como na potência e força de dorsiflexão de tornozelo não mudaram muito (Rés e cols., 2008).

Com base nos estudos anteriores, pode-se dizer que um treinamento de vibrações pode aumentar a força muscular, especialmente nos idosos que geralmente têm um menor nível de força que os adultos, da mesma forma que nos treinamentos convencionais de força. O aumento de força se atribui principalmente à melhora da coordenação inter e intramuscular. Já, em uma pesquisa realizada por nosso grupo, foi demonstrado que também se pode conseguir uma hipertrofia muscular em idosos muito fracos (Machado e cols., 2009).


POPULAÇÃO
TIPO
PROTOCOLO VIBRATÓRIO
INTENSIDADE
FREQUÊNCIA
RESULTADO
REFERÊNCIA
Mulheres pós-menopáusicas ( ~ 64 anos)
?
3vezes/semana, 24 semanas2.5-5.0 mm2.29-5.09 g
35-40
↑ Força dinâmica isométrica de extensores do joelho, agilidade de movimento de extensão do joelho e altura de salto com contra-movimento nos grupos de treinamento de VCI e de resistência.Roelants e cols., 2004
Mulheres pós-menopáusicas (60-70 anos)
SIN
24 semanas (3vezes/semana) de VCI vs exercícios de resistência2.3-5.1g,
1.7-2.5 mm
35-40
↑ Força muscular isométrica (15%) e dinâmica (16%). Os grupos de treinamento do VCI e de força mostraram benefício significativo.Verschueren, Roelants et al. 2004
Homens (60-80 anos)
SIN
1 ano (3vezes/semana) de VCI vs exercíciosFitness2.5-5.0 mm
30-40
↑ Força muscular isométrica e explosiva nos grupos de treinamento de VCI e de Fitness.Bogaerts e cols., 2007
Homens e Mulheres (66-85 anos)
SIN
8 semanas (3vezes/semana) de VCI + exercícios ou apenas os exercícios5-8 mm
26
Sem mudanças no quadril ou joelho, resistência e força extensora e flexora; sem alteração na potência ou força do tornozelo na dorsiflexão; ↑ força e potência do tornozelo na flexão plantar.Rees e cols., 2008
Mulheres (65-90 anos)
SIN
10 semanas (3-5 vezes/semana) de VCI2-4 mm
20-40
↑ máxima contração voluntária isométrica. ↔ atividade eletromiográfica, ↑ área da seção transversal muscular.Machado e cols., 2009

Sin: Onda Sinusoidal; VCI: vibração do corpo inteiro; ?: não indicado; ↑: aumento; ↔: sem mudanças; ↓: diminuição.
Tabela 3. Resumo dos efeitos das vibrações em nível muscular nos idosos.
Fonte: adaptado de Prisby e cols., 2008.

Efeitos sobre o sistema esquelético


tabela 4 resume os efeitos da VCI nos idosos e os protocolos utilizados em diversos estudos, que têm por objetivo determinar a influência deste tratamento e demonstrar as diferentes possibilidades de aplicação.

O estudo, publicado por Verschueren e outros (2004) com mulheres pós-menopáusicas, confirmou os efeitos benéficos, depois de 24 semanas de treinamento vibratório, na DMO do quadril. Nesse estudo, os efeitos de treinamento do VCI são comparados com os efeitos do treinamento de resistência, não encontrando alterações significativas (0,60%). Entretanto, no grupo do VCI foram observados aumentos significativos na DMO do quadril (+0.93%, p < 0.05), sugerindo que a VCI poderia prevenir a osteoporose, quedas e fraturas nas mulheres pós-menopáusicas.

Em outra pesquisa, um grupo de mulheres pós-menopáusicas (57 anos) participou de um programa de treinamento vibratório durante uma baixa frequência e amplitude (30Hz e 0,2mm, respectivamente). Não houve diferenças significativas na DMO do quadril e da coluna lombar entre os grupos de treinamento e controle quando se analisaram conjuntamente (Rubin e cols., 2004). Portanto, é importante destacar que é fundamental a busca de protocolos mais eficientes. Entretanto, tomando em consideração o grupo controle total e a parte do grupo experimental que realizou, pelo menos, 86% do tratamento, verificou-se que o grupo controle perdeu 2,13% do DMO no pescoço do fêmur após 1 ano de tratamento, enquanto esse grupo experimental obteve um ganho de 0,04%. Desta forma, o benefício total do tratamento está associado a um ganho de 2,17% (Rubin e cols., 2004). Ao considerar a interdependência do peso, a DMO da coluna das mulheres mais magras melhorou mais que as mulheres com sobrepeso.

Um estudo, realizado por Iwamoto e colaboradores, demonstrou que o tratamento com a VCI e alendronato por um período de um ano não mudou a DMO da coluna lombar e tampouco os marcadores de remodelação óssea em relação às mulheres pós-menopáusicas que utilizaram apenas o alendronato, por outro lado, as mulheres do grupo de tratamento combinado manifestaram uma redução da dor crônica nas costas (Iwamoto e cols., 2005).

Gusi e colaboradores (2006) analisaram se o exercício vibratório é mais eficiente que caminhar para melhorar a DMO em mulheres saudáveis pós-menopáusicas. Vinte e oito mulheres sem treinamento físico foram divididas aleatoriamente em 2 grupos: 1) VCI e 2) caminhada. Os 2 grupos realizaram 3 sessões semanais durante 8 meses de treinamento. Cada sessão da VCI consistia em 6 séries de 1min com 1min de descanso. O grupo que caminhava realizava 55min do exercício propriamente dito e 5min de alongamentos. Depois do período de treinamento, o grupo VCI melhorou a DMO do pescoço do fêmur em 4,3% e o equilíbrio 29% enquanto no grupo que caminhava não houve mudanças significativas. Por outro lado, a DMO da coluna lombar não alterou em nenhum dos grupos. Portanto, os autores concluem que 8 meses de treinamento vibratório é suficiente e mais eficaz que a caminhada para melhorar 2 grandes determinantes de fraturas ósseas: a DMO do quadril e o equilíbrio.

Em resumo, os estudos proporcionam evidências da eficácia da VCI para aumentar a massa óssea no pescoço de fêmur em mulheres pós-menopáusicas. Prisby e colaboradores (2008) explicam que os mecanismos que o fazem possível pode estar relacionados com a perfusão tissular, as flutuações dos hormônios sistêmicos e/ou se produzem diretamente pela estimulação mecânica. Os efeitos potenciais da VCI, em muitos sistemas fisiológicos, podem ocorrer de forma direta ou indireta através de vários mecanismos. Atualmente, os dados não estão claros a respeito de como a VCI afeta os hormônios sistêmicos, a morfologia e função vascular periférica, e a perfusão óssea, especialmente em idosos e em mulheres pós-menopáusicas.

POPULAÇÃO
TIPO ONDA
PROTOCOLO VIBRATÓRIO
PERÍODO
INTENSIDADE
FREQUÊNCIA
RESULTADO
REFERÊNCIA
Mulheres pós-menopáusicas (60-70 anos)Sin30min,
3vezes/semana
24 semanas2.3-5.1 g,
1.7-2.5 mm
35-40
↑ DMO do quadril (0.93%); ↔ marcadores de remodelação óssea.Verschueren
e cols., 2004
Mulheres pós-menopáusicas (57 anos)Sin2 x 10min/dia12 meses0.2 g
30
↔ DMO da coluna lombar e do quadril; ↑ DMO da coluna totalRubin e cols., 2004
Mulheres com osteoporose pós-menopáusicas (55-88 anos)?1vezes/semana,
4min
12 meses0,7-4.2mm
20
↑ DMO da coluna lombar e do quadril; ↔ marcadores de remodelação óssea; ↓ da dor crônica nas costasIwamoto e cols. 2005
Mulheres pós-menopáusicas
(66 anos)
?3vezes/semana
VCE vs caminhada
8 meses3mm
12.5
↑ DMO do colo do fêmur (4.3%) ↔ DMO da coluna lombar ↑ equilíbrio (29%)Gusi e cols., 2006
Sin: Onda Sinusoidal; VCI: vibração do corpo inteiro; DMO: densidade mineral óssea; ?: não indicado; ↑: aumento; ↔: sem mudanças; ↓: diminuição.
Tabela 4. Resumo dos efeitos esqueléticos da VCi em idosos.
Fonte: adaptado de Prisby e cols., 2008.
Conclusões

A vibração é uma prometedora ferramenta para o exercício dos idosos, devido à relativa facilidade de uso e porque requer apenas uma limitada capacidade motora da pessoa. Além disso, consideramos que o treinamento da VCI minimiza a necessidade de um esforço consciente e o estresse dos sistemas músculo esquelético, respiratório e cardiovascular (Rittweger e cols., 2000; Garatachea e cols., 2007), esta alternativa de exercício pode ser uma boa estratégia para a prevenção da sarcopenia nos idosos. As pesquisas ainda estão iniciando-se, entretanto, os resultados de estudos controlados indicam um grande potencial desta intervenção na prevenção da osteoporose e sarcopenia, embora sejam necessários mais estudos para demonstrar por que e como melhora a estrutura musculoesquelética pelo treinamento com vibrações. O uso da VCI com fins terapêuticos está ainda muito longe de uma padronização. Atualmente, o limite adequado para a obtenção de efeitos benéficos não foi ainda determinado e se desconhece se este limite pode ser aplicado em todos os tecidos e órgãos do corpo. Os protocolos de treinamentos de vibrações (por exemplo, o tipo de vibração, a frequência, a duração e a amplitude) citados na literatura, e que se resumem neste artigo, variam muito, representando uma grande dificuldade para chegar a conclusões definitivas sobre um protocolo mais eficiente.

As próximas pesquisas devem estar centralizadas na determinação de uma adequada frequência, duração, amplitude e tipo de vibração. Além disso, os protocolos da VCI mais adequados dependerão da população, por exemplo, os protocolos elaborados para as pessoas jovens podem ser inadequados para as pessoas de idade avançada; os protocolos elaborados para idosos saudáveis também podem ser inadequados para os idosos fracos. Finalmente, consideramos como requisito indispensável um enfoque multidisciplinar para determinar se a aplicação da VCI é benéfica para todas as respostas fisiológicas.

Resumo

A seguir, apresenta-se um resumo das principais recomendações do treinamento de força das organizações mais reconhecidas.

RECOMENDAÇÃO
ATIVIDADE FORTALECIMENTO MUSCULAR

Frequência
Número de exercícios
Séries e repetições
Adultos saudáveis, 2007, ACSM/AHA(companion recommendation to 2007 older adult recommendation)Pelo menos 2 d/sem8-10 exercícios dos principais grupos musculares8-12 repetições
idosos, 2007,ACSM/AHA
Recommendation
Pelo menos 2 d/sem8-10 exercícios dos principais grupos musculares10-15 repetições
Osteoporose e saúde óssea: A Report Of The Surgeon General, 20042-3 d/semUm programa de exercício de pesos progressivo para os principais grupos musculares.De suficiente intensidade para melhorar a força muscular; aumentar gradualmente o peso.
Idosos, 1999, Health Canada2-4 d/semPesos que a pessoa possa levantar 10 vezes "antes de chegar a ser muito pesado".
Doença arterial coronária, 2001,American Heart Association (aerobic recommendation)
Doença cardiovascular, 2000, American Heart Association2-3 d/sem8-10 exercícios dos principais grupos musculares.1 série de 8-15 reps
(may progress to >1 set)
Hipertensão, 2004, ACSM2-3 d/sem(treinamento de força com atividade aeróbica)8-10 exercícios dos principais grupos musculares1 set of 8-15 reps(more than one set acceptable for selected adults)
Diabetes tipo 2, 2004, American Diabetes Association3 d/semTodos os principais grupos muscularesProgredir até 3 séries de 8-10 repetições, com um peso que a pessoa não possa levantar >8-10 vezes.
Colesterol, 2001, National Cholesterol Education Program recommended physical activity as in 2000 Dietary GuidelinesAtividades de fortalecimento muscular recomendáveis como benéficas.
Acidente cerebrovascular, 2004,American Heart Association2-3 d/sem8-10 exercícios dos principais grupos musculares.1-3 séries de 10-15 repetições
Osteoartritis, 2001, American Geriatrics Society2-3 d/sem para exercícios de força isotônica (exercícios isométricos também recomendados).8-10 exercícios dos principais grupos musculares.6-15 repetições de exercícios isotônicos, dependendo da intensidade começar com 1 série e progredir adequadamente.


Autor: Rafael Tadeu Preparador Físico da Categoria Sub 14 do América Futebol Clube - MG