domingo, 28 de fevereiro de 2010

Lesões Musculares Parte III (o quadríceps)

O grupo do músculo quadríceps consiste em quatro músculos no aspecto anterolateral do fêmur: O reto femoral, o vasto medial, o vasto lateral e o vasto intermediário. O reto femoral é o único músculo bi articular do quadríceps, funcionando na extensão do joelho e flexão do quadril.


Figura 1: Músculos da face anterior da coxa.

As lesões do quadríceps são uma ocorrência comum nos esportes. O quadríceps está sujeito tanto a distensões quanto a contusões, com essa última apresentando maior incidência.

As contusões ocorrem como resultado de um trauma direto. O músculo é pressionado contra o osso subjacente, resultando em laceração muscular e sangramento intenso no músculo. O “Tostão” no futebol é o melhor exemplo deste tipo de lesão.

As distensões são causadas por alongamento excessivo ou sobrecarga excêntrica. Normalmente ocorrem na junção músculo tendínea. Tais rupturas são resultado da força intrínseca gerada no músculo do atleta, geralmente na mudança entre a contração excêntrica e concêntrica.

Uma distensão do quadríceps pode ser muito incapacitante, especialmente quando o reto femoral estiver envolvido. Os músculos do quadríceps são muito semelhantes aos ísquiotibiais, pois produzem enorme quantidade de força e contraem-se de forma rápida.

Os principais sintomas são: Dor aguda, edema em uma área especifica e perda da flexão do joelho. Caso o reto femoral esteja envolvido, a flexão do joelho na posição prona estará limitada e dolorosa. O comprometimento do reto femoral é mais incapacitante do que qualquer outro músculo do quadríceps. Caso não ocorra história de contato direto na área do quadríceps, a lesão deverá ser tratada como distensão muscular. O encurtamento do quadríceps, o desequilíbrio entre os músculos que compõem o mesmo e a discrepância no comprimento dos MMII, pode predispor uma pessoa à distensão quadricipital.

Na distensão do quadríceps grau l o atleta pode queixar-se de tensão na parte frontal da coxa, com ou sem presença de edema e pequeno desconforto a palpação. Se o reto femoral estiver envolvido, a extensão resistida do joelho poderá produzir pequeno desconforto.

O atleta com distensão do quadríceps grau ll pode apresentar ciclo de marcha anormal, podendo ocorrer rotação externa do quadril, a fim de usar os adutores para puxar a perna durante a marcha e evitar a extensão do quadril durante a fase de oscilação. Isso ocorre especialmente quando o reto femoral está envolvido. O edema já pode ser observado, a palpação produzirá dor e alterações no músculo poderão estar aparentes. A extensão resistida poderá reproduzir dor. Com o atleta em prono, a flexão ativa da articulação do joelho poderá em alguns casos estar limitada a 45 graus de amplitude. Nas distensões quadricipitais, qualquer diminuição na amplitude de movimento de flexão do joelho, indica que a lesão deve ser classificada como grau ll ou lll.

Na distensão do quadríceps grau lll o atleta pode ser incapaz de deambular sem a ajuda de muletas, sentirá dor severa e apresentará uma alteração visível no quadríceps. A palpação não é tolerada e o edema aparece quase que imediatamente após a lesão. O atleta pode não ser capaz de estender a perna ativamente ou contra resistência. A contração isométrica é dolorosa e pode produzir uma saliência ou alteração no quadríceps, especialmente no reto femoral. A flexão ativa do joelho com o atleta em prono estará gravemente limitada e poderá não ser tolerada.

Reabilitação

Um atleta com distensão do quadríceps grau l deve iniciar a aplicação de gelo e a compressão imediatamente após a lesão. Os exercícios isométricos, a movimentação ativa, como também os exercícios de resistência progressiva devem ser realizados nas primeiras 24-48 horas. Os exercícios de alongamento também podem ser iniciados, porém não devem produzir dor, caso contrário podem aumentar a área lesada e provocar sangramento.

Na distensão do quadríceps grau ll a aplicação de gelo deve ser iniciada imediatamente, a compressão deverá ser mantida por 24 horas durante todo o período da reabilitação (evitar sangramento) e o uso de muletas é indicado por um período de 3 a 5 dias objetivando proteger a área lesada. As modalidades de estimulação elétrica podem ser utilizadas para reduzir a dor, o edema e a inflamação.

Caso esteja sem dor o atleta poderá iniciar os exercícios isométricos para quadríceps e exercícios ativos para ganho de amplitude de movimento a partir do segundo dia. Posteriormente os exercícios de fortalecimento do quadríceps (progressivos, contra resistência) estão indicados desde que não provoquem dor. A hidroterapia e o ciclo ergômetro também podem ser realizados a partir do sétimo dia, procurando inicialmente evitar movimentos vigorosos. Os alongamentos passivos indolores devem ser evitados antes do sétimo dia. Todos os exercícios devem ser executados sem a presença de dor.

O atleta com distensão de quadríceps grau lll deve usar muletas durante 7 a 14 dias. A compressão por 24 horas, gelo e as modalidades de estimulação elétrica devem ser utilizadas imediatamente. Certas modalidades, como massagem, calor e alongamentos forçados do músculo durante a fase aguda estão contra-indicados. Quando o atleta estiver sem dor podem ser utilizados os exercícios isométricos para o quadríceps.

O gelo juntamente com os exercícios ativos são bastante úteis na recuperação da ADM. A flexão do quadril com o joelho estendido e sem peso pode ser realizada sem a presença de dor. O peso pode ser acrescentado a partir do décimo dia. A hidroterapia e o ciclo ergômetro podem ser acrescentados ao programa de reabilitação. A altura do selim deve ser regulada de acordo com a ADM do atleta. Os exercícios de resistência progressiva podem ser realizados a partir da terceira semana. O atleta deve apresentar amplitude ativa total de movimento até a quarta semana. Somente após o restabelecimento da ADM total que os exercícios de alongamento para o quadríceps devem ser acrescentados.


Figura 2: Eletroestimulção do quadríceps associado ao trabalho resistido.

A reabilitação das contusões do quadríceps pode seguir o mesmo modelo da reabilitação das distensões quadricipitais, porém uma maior atenção deverá ser dada principalmente nas fases iniciais,quando a lesão deverá ser “protegida” evitando assim o aumento do sangramento, do edema e dificuldades no processo de cicatrização da mesma.


Figura 3: Fortalecimento no Rack machine.
A lesão muscular é considerada totalmente recuperada quando não há mais dor ou sensibilidade a contração completa do músculo. Uma vez restabelecida a função muscular, a flexibilidade total das articulações adjacentes e um padrão normal de movimentos, o programa de treinamento integral poderá ser retomado.