domingo, 5 de junho de 2011

Importância da preparação física na periodização tática

Treino mais ou menos descontínuo depende de séries, volume, pausas satisfatórias ou não e devem ser montados em conjunto para que todas as sessões ganhem em evolução

Os estudos e vivências atuais do futebol demonstram a importância do uso da periodização tática na preparação de equipes profissionais. Este método deixa um pouco de lado as sistematizações com relação às porcentagens de carga de treinamento, características dos microciclos, etapas, etc. Sabemos que na periodização tática as programações são feitas em cima da preparação para o jogo posterior e baseada num microciclo padrão, mais conhecido por morfociclo.

Pelo fato de não se enfatizar os períodos de aquisição de forma visando picos de forma de acordo com o desenvolvimento das capacidades físicas e pelo trabalho ser voltado completamente ao sistema de jogo imposto pelo treinador, o preparador físico parece ter o seu trabalho reduzido neste processo.

O treinador José Mourinho usa o termo “treinador adjunto” para a função de seu preparador físico, excluindo da metodologia sessões isoladas para o desenvolvimento das capacidades físicas. Oliveira, 2006 cita em seu livro, explicando a metodologia de Mourinho e ressaltando que suas equipes não treinam em academia e não realizam sessões de treino voltadas para resistência como os conhecidos tiros de 1000m, corridas contínuas, entre outros tipos de treino e cita o uso da sala de musculação apenas para atletas que estão voltando de lesão. Porém temos que considerar e comparar o nível de força e técnica dos atletas que ele tem em mãos além da tecnologia que possuem com relação a dados individuais que são usados como ferramenta de trabalho nas montagens de sessões e conhecimento do grupo.

A partir das colocações acima podemos relacionar várias situações de importância do preparador físico no processo. Por exemplo, a importância na montagem das sessões com relação às orientações das cargas, se o treino é forte, moderado ou leve, quais capacidades físicas trabalham em especificidade e concorrência, o tempo de recuperação de um treino para o outro fazendo com que o atleta execute as sessões sempre descansados e buscando atingir a perfeição, as recuperações pós-jogo, os trabalhos de hidratação que competem às fisiologistas, porém podemos auxiliar e em equipes de pouca estrutura temos que nos responsabilizar.
Na sequência, explicarei a nossa importância com relação aos problemas citados acima:

Orientações de carga: os treinadores sabem com relação à aplicação do esquema tático e impõem seu método de aplicação buscando o melhor entendimento possível por parte dos atletas, porém não sabem na maioria das vezes como quantificar um treinamento de acordo com a fonte energética predominante e na periodização tática nos deparamos com diferenças entre as fontes, principalmente no morfociclo. Um treino mais ou menos descontínuo depende de séries, volume, pausas satisfatórias ou não e devem ser montados em conjunto (treinador e preparador físico) para que todas as sessões ganhem em evolução.

Treino forte, moderado ou leve: saber identificar a intensidade do treino na modalidade futebol é realmente complicado. Às vezes um treino extenso não é forte e vice-versa. A intensidade está relacionada à carga emocional imposta no treinamento. Porém, o preparador físico tem um feeling melhor para relacionar a carga do treino anterior com a sua recuperação para a próxima sessão, estabelecer o tempo correto de recuperação de um treino para o outro, mudar a programação de todos ou alguns jogadores durante a preparação para o jogo. Saber o momento que o jogador está se sentindo mais desgastado e este desgaste pode acumular de forma negativa para o jogo em preparação. Na periodização tática, como citado acima, os treinos e semanas são caracterizadas dessa forma, pois não conseguimos determinar porcentagens, muito menos relacionar os microciclos às características existentes nas literaturas.

Treinamentos específicos: planejar sessões de treinamento específicas, que adaptem os atletas e que os preparem para os desafios e dificuldades do jogo é uma das partes mais importantes no planejamento de uma comissão técnica. Como sabemos o treino não é composto apenas de parte principal e podemos evoluir trabalhando em especificidade no aquecimento, estimulando a força específica de alguma forma dentro do modelo de jogo, minimizando os riscos de lesões freqüentes, entre outras importâncias sabendo dosar as intensidades de acordo com o momento do macrociclo. Nem sempre todos os atletas conseguem se adaptar ao esquema, ou sentem e sentimos que para aquele atleta ainda falta algo mais e temos que complementar em especificidade, dentro das exigências da posição. Um dos grandes problemas que os clubes encontram é a heterogeneidade dos grupos, ou seja, o grupo não se apresenta por completo no dia determinado, atletas chegam 10 dias depois, outros 20, vindo de um mês de inatividade, outros vindo de lesão, outros saindo de uma competição, treinamentos extras, entre outros problemas que dependem da identificação e do feeling do preparador físico.

Concorrência nos treinamentos: ao estudarmos treinamento desportivo aprendemos que as capacidades físicas se desenvolvem melhor trabalhadas isoladamente. Aprendemos também que determinadas capacidades trabalhadas na mesma sessão uma após a outra podem prejudicar nos ganhos das mesmas, como por exemplo, se trabalhar velocidade após resistência. Porém, no futebol não temos como escapar da concorrência quando defendemos a especificidade como princípio fundamental no processo de treinamento e de vitórias. O futebol é um desporto intermitente e durante o período de jogo exige de todas as capacidades físicas em especificidade; com isso, se queremos preparar bem nossos atletas e em especificidade, temos que ir contra a literatura e trabalhar de forma concorrente, mas até isso tem que ser programado de forma inteligente. O preparador físico se torna importantíssimo e responsável no processo.

Recuperação pós-jogo e treino e hidratação: normalmente este processo é de responsabilidade do fisiologista, porém em equipes menores esta função tem que ser exercida pelo preparador físico e da mesma forma os atletas tem de estar da melhor maneira possível recuperados para o treino ou jogo posterior. Suplementar, alimentar, conscientizar os atletas destas importâncias acaba sendo de responsabilidade do preparador, ou seja, nosso trabalho nos bastidores é fundamental no processo.
Finalizando este texto, ao saber da sua real importância na metodologia da periodização tática, o preparador físico se torna peça fundamental no processo, mesmo sem aplicar sessões isoladas para desenvolvimento físico e interpretando que o treinamento específico dentro do sistema de jogo também tem exigências físicas e o condicionamento está totalmente ligado à adaptação, sendo que ao se adaptar o atleta consegue render melhor fisicamente para a equipe. Estou aberto a discussões e a novos estudos sobre a preparação física na periodização tática.

Disponivel em: Universidade do Futebol
Autor: Rafael Cotta